A ALFABETIZAÇÃO NA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA
COMPETÊNCIAS
»Conhecimento dos modos de
variáveis de intervenção didática, de acordo com os níveis de evolução do
processo de aquisição da leitura e da escrita.
»Compreensão das características
construtivistas na aquisição da leitura e da escrita, de modo a habilitar-se a
identificar seus níveis, na concepção de Emília Ferreiro.
HABILIDADES
»Identificar os princípios
psicopedagógicos que norteiam as práticas alfabetizadoras na perspectiva
construtivista.
»Caracterizar os níveis de
evolução do processo de aquisição da língua escrita.
»Aplicar as formas de intervenção
didática de acordo com os níveis de evolução da língua escrita.
Esta quarta e última unidade de estudos é
importantíssima, pois tem o objetivo de analisar os princípios psicopedagógicos
que norteiam as práticas alfabetizadoras contemporâneas centradas no como
aprender, visando re-significá-las e principalmente buscar suporte técnico para
você, como Pedagogo, compreender e intervir nos processos de letramento tão
importantes para a formação cidadã.
Para a leitura das referências
recomendadas, você deverá dispor de um tempo extra.
Vamos agora iniciar o diálogo
sobre a temática que compõe a Unidade IV, discutindo os conteúdos a seguir
indicados na perspectiva de lhe propiciar material de estudo, base da reflexão
sobre os princípios psicopedagógicos que norteiam as práticas alfabetizadoras
contemporâneas centradas no como aprender.
• Construtivismo:
conceito e princípios;
• A
evolução da escrita segundo Emilia Ferreiro: os níveis pré-silábico, silábico,
silábico-alfabético e alfabético;
• A
didática dos níveis.
É muita coisa? Parece que sim,
mas você vai ver que não é tão complexo!
Quais os princípios
psicopedagógicos que norteiam as práticas alfabetizadoras contemporâneas
centradas no como aprender?
4.1 CONSTRUTIVISMO: CONCEITO E PRINCÍPIOS
Você já percebeu, com certeza,
que vivemos num mundo grafocêntrico, ou seja, tudo gira em torno da escrita. É
impossível pensarmos no mundo atual e toda a sua evolução histórica sem a
presença dos registros escritos. Assim, podemos afirmar que vivemos num
ambiente alfabetizador, pois a nossa volta encontramos diferentes suportes de
escrita: outdoor, anúncios, jornais, placas de trânsito, cartazes...
É considerando o ambiente letrado
em que vivemos que diferentes autores se apóiam no pensamento de J. Piaget, ao
afirmar que para aprender a ler e escrever é preciso interagir com o mundo da
leitura e da escrita. Quanto mais rico for o ambiente alfabetizador em que a
criança estiver interagindo, mais rapidamente ela vai descobrir a função social
da escrita e, conseqüentemente, reconstruir o sistema de escrita.
Sobre esta questão, Ferreiro
(1993, p 25) afirma que “as crianças são facilmente alfabetizáveis desde que
descubram, por meio de contextos sociais e funcionais, que a escrita é um
objeto interessante que merece ser conhecido”.
Para a autora, são os adultos que
dificultam o processo de construção da escrita pela criança quando idealizam
seqüências de progressão cumulativa (métodos /processos de alfabetização) como
vimos na Unidade III. Quando assim procede a escola ignora o princípio básico
do construtivismo, segundo o qual cada sujeito constrói o seu próprio
conhecimento a partir das interações que estabelece com o meio. Vale aqui
relembrar que se aprendemos a falar falando, interagindo com a fala, porque não
usar o mesmo princípio para a escrita, ou seja, aprender a escrever interagindo
com o mundo da escrita.
Pare
e pense: Você conhece muitas pessoas que fracassaram para aprender a falar? Com
certeza, não! Isso só ocorre se a criança tem alguma disfunção no aparelho
fonador. O sucesso do “aprender a falar” advém do fato de que ninguém nega o
acesso das crianças às informações lingüísticas, não é mesmo? Não é proposto à
criança que está aprendendo a falar uma seqüência predeterminada de fonemas. Já
para a aquisição da linguagem escrita o procedimento tem sido exatamente o
oposto, sem considerar o que a criança pensa. Neste sentido , a preocupação maior,
na perspectiva tradicional tem sido com o “como ensinar” em detrimento do “como
a criança aprende”. O “como ensinar” tem o cerne centrado no professor que
determina o que ensinar e como ensinar sem preocupação com o que a criança
pensa.
Você já deve estar pensando: será
que a aquisição da escrita se dá de forma espontânea? É claro que não. Este é
um processo que exige interações e mediações. Para Ferreiro (2003, p. 32) “é um
processo que exige acesso à informação socialmente veiculada, já que muitas propriedades
da língua escrita só se descobrem por meio de outros informantes e da
participação em atos sociais nos quais a escrita sirva para fins específicos”.
Na verdade, a aquisição da
escrita pela criança não é um processo linear, mas um processo com etapas
evolutivas em que a criança vai revendo as hipóteses construídas acerca da
escrita, a partir dos conflitos que estabelece. Esses conflitos têm um papel
construtivo no ato de aprender a escrever.
Mas vamos ver mais detalhadamente
a que hipóteses e conflitos estamos nos referindo.
4.1.1 A evolução da escrita
segundo Emilia Ferreiro: os níveis pré-silábico, silábico, silábico-alfabético
e alfabético.
A psicóloga argentina chamada
Emília Ferreiro, na década de 70, iniciou trabalhos experimentais que deram
origem a hipóteses teóricas sobre a psicogênese do sistema de escrita e que
acabaram por inovar as práxis alfabetizadoras.
A teoria de Ferreiro (1989),
denominada Psicogênese da Lingua Escrita, nasceu no contexto da América Latina
onde, de maneira geral, Ferreiro desenvolveu os seus estudos.
Para a autora, uma criança, ao
aprender a ler e escrever, tem de lidar com dois processos simultâneos: as
características do sistema de escrita e o uso funcional da linguagem. Para
construir esses conhecimentos, a criança elabora hipóteses acerca do sistema de
escrita, e a medida em que se conflita com estas hipóteses as (re) elaboram até
apropriar-se de toda a complexidade do sistema de escrita. Estas hipóteses
acabam por definir os níveis de evolução da escrita.
Vamos agora conhecer estes
níveis.
4.1.1.1 Nível pré-silábico
(primeiro momento)
As crianças têm uma tendência
natural para a imitação. Assim, se vivem num ambiente onde a escrita faz parte
do seu cotidiano, elas tendem a imitar a escrita dos mais velhos. No início, a
criança registra as garatujas desorganizadas, desenhos sem figuração, rabiscos
sem sentido e, mais tarde garatujas organizadas, com figuração. Quanto mais
letrado for o ambiente da criança e maior a disponibilidade de material gráfico,
mais cedo ela começa a rabiscar e a experimentar os símbolos.
Ao avançar no processo, a criança
começa a usar as pseudoletras1. Nessa fase a criança não distingue letras de
números. Escreve com bolinhas, riscos, traçinhos. Este é um primeiro momento do
nível que Ferreiro denominou com pré-silábico. Em síntese, as características
deste primeiro momento são:
• A
escrita representa o nome do objeto, não há relação entre a escrita e a fala;
• Utiliza
sinais gráficos do ambiente alfabetizador para escrever;
• Utiliza
o desenho como apoio à escrita;
• Ainda
não há hipótese da quantidade mínima;
A escrita não é interpretável:
À medida em que a criança
pergunta ao adulto sobre as representações presentes no seu cotidiano, ela
(re)elabora as suas hipóteses e começa a diferenciar letras de número e a
perceber que as letras servem para escrever, muito embora, ela ainda não saiba
como isso ocorre. As características deste segundo momento são:
• Os
sinais gráficos se aproximam das letras;
• Surge
a hipótese quantitativa e qualitativa;
A leitura da escrita é global,
assim, cada letra vale como parte do todo e não tem valor em si mesma.
Na hipótese pré-silábica
predomina a falta de consciência por parte da criança de que exista uma
correspondência entre pensamento e palavra escrita. A criança não estabelece
nenhuma relação entre os grafemas e os fonemas. Para elas a ordem das letras
não é importante. Ela acredita que só se pode escrever ou ler usando muitas
letras e que estas não podem se repetir na escrita. Costuma ainda associar:
para escrever boi é preciso muitas letras, mas para escrever formiguinha poucas
letras são suficiente, porque a formiga é pequena.
Com a mediação do adulto a
criança avança na construção das suas hipóteses e chega ao nível silábico.
4.1.1.2 Nível silábico
Nessa fase, a criança já conhece
e utiliza alguns valores sonoros. Já começa a existir uma certa estabilidade
das palavras. Surge o conflito quantitativo (quantas letras preciso para
escrever?) e o conflito qualitativo (quais letras vou utilizar para escrever?).
Começa a existir uma correlação entre a fala e a escrita.
As principais características
desse nível são:
• A
escrita representa o som da fala;
• Existe
uma preocupação com as partes que compõem uma palavra;
• Qualquer
letra pode representar um som;
• Mantém-se
o critério da quantidade mínima de letras para escrever palavras;
• Podem
aparecer sinais gráficos distantes das formas das letras;
• A
produção escrita dos alunos não será compreendida pelos outros.
A partir das interações que a
criança estabelece, ela começa a aceitar que se pode escrever com uma ou duas
letras, mas com um certo receio. Às vezes, acrescenta letras apenas para ser
coerente com a hipótese de que não se pode escrever com menos de três letras
(hipótese da quantidade mínima). Ocorre uma maior precisão na correspondência
fonema/grafema. Ao avançar no processo, a criança chegar a uma fase
intermediária conhecida como silábico-alfabética. Vejamos:
4.1.1.3 Silábico alfabético
Este é um momento de transição
entre o nível silábico e o nível alfabético. A criança começa a perceber que
ninguém consegue ler o que ela escreve, principalmente quando usa apenas as
vogais. Assim, ela se vê sem saída. Vejamos as características dessa transição:
• Nível
de transição entre o nível silábico e o nível alfabético.
Ocorre o acréscimo de letras para
composição das partes que compõem as palavras.
Nesse momento, a criança está
próxima à escrita alfabética.
4.1.1.4 Nível Alfabético
Nesse nível, a criança, segundo
Ferreiro (1993, p. 51), já compreende a lógica do sistema lingüístico. Ela já
lê e escreve, muito embora, não escreva, ainda, segundo as convenções
ortográficas. Assim, é preciso criar situações de intervenção didática com este
fim.
Vejamos as características deste
nível:
• A
criança descobre que uma sílaba pode ter uma, duas, três, quatro ou cinco
letras;
• Escreve
como fala;
• Atinge
a compreensão do mecanismo da escrita.
Fonte:http://arquivos.unama.br/nead/graduacao/cche/pedagogia/4semestre/comunicacao_linguagem_alfabetizacao/html/unidade4/unidade_4.html
Fonte:http://arquivos.unama.br/nead/graduacao/cche/pedagogia/4semestre/comunicacao_linguagem_alfabetizacao/html/unidade4/unidade_4.html
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